Outra Forma de Apresentar Personagens – DW

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Olá pessoal, tudo bem?

Ultimamente estamos passeando por outros sistemas e autores. Nos deparamos com propostas tão interessantes que estamos indo cada vez mais fundo na toca do coelho. Dito isso, que tal uma pequena adaptação para Dungeon World? É… eu sei, eu também torço o nariz para qualquer houserules que aparecem por aí, afinal o Dungeon World é tão redondinho. Mas mesmo assim eu insisto, dê uma olhadinha nessa proposta, prometo que ela não irá ferir o jogo, em sua essência.

Recentemente conhecemos a mecânica suave e permissiva de narrativa compartilhada de Blood & Honor de John Wick, que saiu no Brasil pela Editora REDBOX. Essa pequena adaptação é inspirada em elementos bem legais desse jogo e promete – novamente – não alterar suas premissas básicas.

Nos aproveitando desta referência, resolvemos propor uma sutil alteração no momento da criação de personagens. Em certos momentos em Blood & Honor, outro jogador toma as rédeas da história (ganhando o que é chamado de Prioridade), e a partir disso tem o poder de decisão, inclusive a respeito do personagem de outro jogador. Isso sempre nos causa excitação e resulta em momentos inesquecíveis, pois geralmente ocorre uma reviravolta na história. Gostaríamos de aproveitar isso. Outra coisa, toda vez que um jogador adiciona elementos à cena (através de uma mecânica chamada Apostas), outro jogador não poderá negar aquilo que o primeiro disse, aquilo que foi dito, está escrito na pedra. O segundo jogador, apenas pode colocar outros elementos que não foram citados. Também gostaríamos de aproveitar isso.  

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Então, Ceteris paribus (mantidas inalteradas todas as outras coisas), propomos o seguinte:

Na etapa 11- Apresente o Personagem, do Capítulo 3 – Criação do Personagem, o jogador deverá apresentar sua ficha aos demais jogadores. Ele relatará a respeito de suas escolhas, seu nome, classe, habilidades, aparência, alinhamento, movimento e todas informações relevantes que esteja em sua ficha. Porém, não contará nenhuma história sobre seu personagem.

Após ter apresentado sua ficha, a começar pela pessoa que está a sua direita, um a um fará perguntas para o jogador e este responderá à elas, criando a história de seu personagem a partir disso. As perguntas a respeito do personagem são declaradas em voz alta e são livres, porém, tudo se torna mais interessante se as perguntas declararem eventos e direcionamentos para a história do personagem, como por exemplo:


  • Como as feras conseguiram invadir sua vila ?
  • Por que você deixou vivo seu maior inimigo?
  • Como você pode amar tanto Sherry, sabendo que ela lhe apunhalou pelas costas?
  • Por que você guarda tanto rancor do Rei de Camélia ?

Para funcionar, não se sinta acanhado de comprometer seu coleguinha, a ideia é mesmo esta. Vocês estão coletivamente criando o personagem, neste momento, lembre-se de adicionar coisas interessantes e sabendo como seu amigo é, sirva-o de ótimas perguntas, coisas que ele gostaria de responder. Assim como aquela entrevista à celebridades feita pela própria emissora, que não toca em assuntos delicados, faça o mesmo. Algumas vezes, toque num ponto importante para desafiá-lo.

As perguntas serão respondidas pelo jogador daquele personagem da forma mais completa possível, porém há uma pequena regra, retirada do Blood & Honor, o jogador não poderá contradizer o que o outro jogador afirmou, se ele insinuou que você tem uma esposa, você não pode dizer NÃO, você terá uma esposa. Você pode dizer “sim…” e “sim, mas…”. De outra maneira, ele não poderá negar ou recusar a afirmação que vem com a pergunta mas poderá acrescentar novos elementos através do MAS. Vamos deixar isso mais claro através de um exemplo:


P: Bjorn – O Guerreiro, por que seu povo está morrendo?

R: Nós estamos morrendo porque estamos sem comida, nossas plantações estão infestadas por uma praga intratável, nosso gado definha e é muito complicado recorrer à capital. MAS os anciãos de nossa vila sabem a respeito de uma lenda que pode nos salvar, mas é bem perigoso.


Ao final de uma rodada quando a palavra retornar ao jogador, dono do personagem, ele poderá fazer alguma contribuição para arrematar e juntar o quebra-cabeças que se formou, mas sem dizer NÃO ao que os outros jogadores inseriram em sua história.


Humm, como meu povo está morrendo e tem um inimigo que deixei vivo, então eu posso dizer que esse cara está vivo porque os anciãos receiam que ele saiba onde está aquilo que precisamos para trazer a fartura de volta à nossas terras.


Dependendo do número de personagens, talvez seja necessário fazer mais uma rodada de perguntas e respostas, mas a ideia é ser bem objetivo. No momento final de arremate, todos ficam livres para mexer na história e deixá-la melhor do que seria se uma cabeça apenas a tivesse bolado. Agora é a vez do próximo personagem, e assim por diante siga até que todos tenham terminado. Você também poderá deixar parte da história em branco e depois, conforme o jogo vai avançando, solicitar que todos façam suas contribuições. Por fim, hora de ir para a etapa 12 – Escolha Vínculos e seguir o jogo normalmente.

Tem gente que não curtirá essa proposta, tudo bem! Basta não aplicá-la. Dungeon World está muito bem sem essas malditas houserules que tentam torná-lo algo que ele não é!

Agora, se você curtiu a ideia, logo abaixo vem um bônus, direto do Blood & Honor. Vou lhes confessar que esse livro é uma aula de game design, eles nos ensina a desencanar de um monte de coisas e aos poucos vai nos desconstruindo e reconstruindo de maneira primorosa. Aproveitem:

“Com esse sistema, os Jogadores têm mais controle sobre a narrativa, assumindo o controle e criando eles mesmos a história…Isso acontece porque os Jogadores têm muito poder neste Jogo. Tanto poder quanto o Mestre de Jogo, se eles quiserem isso. Mas, por que eu faria uma besteira dessas?

Porque eu confio em vocês.

A maioria dos RPGs é desenvolvida levando em conta trapaceiros, babacas e Jogadores apelões. Os designers colocam guardas em certos lugares para evitar que essas pessoas abusem de qualquer furo nas regras. Afinal, isto é um RPG. Existem furos nas regras. Então, ao invés de impor tantos limites aos Jogadores ao ponto de eles ficarem sem ar, fiz o oposto. Coloquei todo o Poder diretamente em suas mãos. De novo, você vai perguntar: por que eu faria uma coisa dessas?

Porque eu confio em vocês.

Eu confio que vocês compreendem que se assegurar de que todos estejam se divertindo não é tarefa só do Narrador. É uma tarefa de todos.”

Jhon Wick em Blood & Honor

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